Valsa com Bashir é um excelente thoght-provoking movie (filme que faz refletir). Israelense, este filme é dirigido pelo judeu Ari Folman, e conta a história de um ex-soldado que apagara da memória o massacre de Sabra e Chatila, bairros do Beirute, capital do Líbano. O mais interessante é que o protagonista é o próprio diretor.
Para entender perfeitamente o mote do filme, seria muito bom já ter uma noção histórica do acontecido. As eternas batalhas entre a Palestina e Israel todos conhecem, acontece que quando tais desavenças entre muçulmanos e judeus e cristãos chegaram ao então pacífico Líbano, fazendo com que tal país entrasse numa guerra civil.
Palestinos (civis) que moravam na região se abrigaram num campo de refugiados que ficava no Líbano, nos bairros de Sabra e Chatila, mais afastados da cidade e protegido por colinas e sob a guarda de israelenses (por pressão da ONU, aliás, eram civis pô!). Entretanto, numa noite a guarda palestina se "descuidou" e uma das facções libanesas massacrou toda essa população civil. Até hoje não se sabe como foi tal "descuido".
A história começa com Folman conversando com um amigo tomando uma no bar. Este amigo conta sobre um sonho que o atormenta há dois anos, no qual 26 cães (exatamente 26, ele se lembra de cada um) o perseguem querendo matá-lo. Esse é um trauma de guerra dele, e então Folman começa a ter um curto sonho sobre o massacre de Sabra e Chatila. Buscando entender o que aconteceu, ele procura seus conhecidos daquela época para "dividirem informações" buscar entender o ocorrido, já que todos têm certo "apagão" de alguns momentos.
O filme varia entre um estilo documental, com Folman "entrevistando" seus conhecidos, e com uma narrativa nos flashbacks das cenas de guerra. O ritmo é bem lento, verdade, mas como disse um dos soldados contando sobre as viagens nos tanques "a viagem lenta nos proporcionava apreciar os belos cenários".
O nome do filme, Valsa com Bashir, é espetacular. "Mas como que um nome de filme pode ser bom, titio?" você se pergunta. Explico-te, caro pimpolho. Existem títulos de filmes que o resumem – como Star Wars, O Poderoso Chefão, Kill Bill – e os que complementam o filme, que adicionam em conteúdo – como Dr. Fantástico: ou como parei de me preocupar e passei a amar a bomba.
Bashir, primeiramente, era o primeiro-ministro muçulmano (normalmente o presidente era cristão e o primeiro-ministro, muçulmano), que quando estourou a guerra civil, foi assassinado. E assim virou uma espécie de mártir e ícone muçulmano, com fotos em todos os lugares, praticamente o Che Guevara oriental. A valsa com Bashir quer dizer que ele e seus "seguidores" estão juntos, dançando e indo em direção à morte.
A cena que melhor "explicita" essa explicação (já que não é explícito) é quando um dos soldados fica ensandecido no meio de um tiroteio, pega uma metralhadora, vai para o fogo cruzado e começa a atirar para todos os lados, valsando, afinal, seus amigos estavam morrendo e ele não sabia mais por que estava nessa guerra.
Este belíssimo filme é uma animação, em 2D, mas bem realista, pois a técnica de desenho foi pintar por cima do fotograma. As cores variam entre tons quentes e frios e fazem alguns takes parecerem pinturas. O estilismo do filme, em animação, é usado para dar vida a alguns devaneios dos personagens, como uma viagem no colo de uma mulher gigante azul (parece uma Na'vi) enquanto um barco é bombardeado. E o impacto causado pela utilização de imagens de aquivo no final é incomensurável, deixando qualquer um que se envolvera com o filme catatônico no final.
A trilha sonora é eclética, e varia entre rock, com guitarras enraivecidas e música clássica, além de uma música, com levadinha alegre, que fala sobre ir para o Líbano. A letra, entretanto, é extremamente irônica e trata sobre o massacre ocorrido.
Valsa com Bashir é um filme que deve ser vivido, e não assistido, tamanho espanto que ele causa nos motiva a indagar sobre os valores dos homens. Matam sem nem lembrar por que, lutam por ganância e para tirar proveito próprio. Antes das pedradas, isso não é propaganda socialista, apenas um apelo ao amor. Um filme pesadíssimo, apesar de ser em desenho, recebeu classificação indicativa de 18 anos. Denso e instigante, é lindamente montado e provoca um pensamento mais importante do que um simples entretenimento momentâneo, todos deveriam ver um filme assim de vez em quando, para tentar mudar o mundo.
PS: O filme foi proibido em Israel.
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2 comentários:
Lendo esse post eu lembrei de quando eu te chamava de Tio Batata...eu não lembro porque, só lembro que te chamava...
oh what?
uhahuauh
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