O filme de Stephen Frears desaponta no fim, mas começa bem e te prende até o final. A estética underground representa muito bem como vivem os imigrantes ilegais de uma Londres nunca mostrada, e serve como denúncia ao que essas pessoas vivem e ao tráfico de órgãos.
Começamos o filme com um protagonista negro. Depois descobrimos que seu nome é Okwe (Chiwetel Ojiofor) -eu, embalado com a Copa do Mundo, lembrei do meu álbum de figurinhas e pensei, é nome de nigeriano: bingo! Ponto pra mim. Depois nos é dito que ele está em Londres (já dava para perceber pelo volante na direita, mas não é certeza). Descobrimos sua ilegalidade e um relacionamento frio com a turca Senay (Audrey Tatou) que lhe aluga o sofá. Outra imigrante ilegal. Querendo ser o mais discreta possível, só deixa Okwe ir para o apartamento quando ela não estiver.
Ele dirige táxis de dia e trabalha como recepcionista de um hotel à noite, mascando ervas indígenas para ficar acordado. Numa bela e suja noite de trabalho, ele descobre que o que está entupindo a privada de um dos quartos do hotel é um coração. Ao reclamar com o gerente, este o impele a ligar para a polícia, como Okwe é imigrante ilegal, não o faz. O patrão dá a entender o que descobriremos mais tarde, existe um tráfico de órgãos de imigrantes no hotel em troca de passaportes da união européia.
O grande mérito do filme é que sua trama se sub-divide em várias. Não é uma história simples. Eis aqui em ordem de importância (ao meu ver):
#1: Okwe. Vamos descobrindo o personagem, seu passado e sua perspectiva para o futuro. Muito bem construído. E também como ele faz para "se virar" na capital inglesa mais suja do que bela nesse filme.
#2: O suspense do tráfico de órgãos
#3: O relacionamento Okwe-Senay, que vai evoluindo com a fita.
#4: Senay. De personagem casta à usada e "corrompida" pelo sistema para sobreviver, sofrendo todo tipo de abuso.
Apesar da costura das tramas ser muito bem feita, o filme cai numa de hollywood no fim do filme, com uma solução tão fictícia quanto o vilão: Sr. Juan, que é bem caricato, ele é até meio parecido com o Robert DeNiro. Mas ainda assim se encaixa na trama e frase no final de Okwe serve como uma denúncia/desabafo das classes oprimidas pelo sistema:
Inglês: Como é que eu nunca te vi?Okwe: Por que vocês nunca nos vêem. Nós dirigimos seus táxis, limpamos seus quartos e chupamos seus paus.
O filme, aliás, é cheio de diálogos de efeito, que são excelentes, mas não ficam muito orgânicos no filme, outro espetacular é este, quando Okwe quer impedir que Senay venda seu rim:
Senay: Uma das faxineiras fez isso e agora está livre!Okwe: Outras estão mortas!Senay: E também estão livres!Okwe: ... o que o seu Deus diria?Senay: O meu Deus não fala mais comigo.
O filme é inteiramente composto por dilemas. Eles perseguem os personagens, assim como nós mesmos. Bela é a Senay, é a virtuosidade de Okwe e o virtual relacionamento deles. Sujo é o capitalismo, as cidades grandes e sobreviver dessa maneira. Os personagens sofrem, e são muito bem interpretados. O filme é pesado, denso, triste. Mas é muito bom.
Nota pra música que toca nos créditos, não sei qual é, acho que chama "Unloved", se alguém souber, me avise, é muito boa.
fade to black
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