Esta obra-prima dirigida pelo tcheco Milos Forman representa a luta de apaixonados pelo cinema e pela história de um livro. Perfeito, é uma obra para ser refletida em diversos campos e ser apreciada como poucas. Um filme tão denso e tão divertido, com tantos talentos, merece estar em qualquer TopFilms de alguém que goste de cinema.
O livro homônimo de Ken Kesey foi um best-seller escrito em 1962 e baseado nas experiências do autor em um hospital psiquiátrico. Tal livro foi lido por Kirk Douglas, e este se apaixonou pela obra. Querendo "disseminar" sua paixão, ele levou o livro ao teatro, resultado: fracasso total. O público de certa forma não gostou e não entendeu a peça, que após 5 meses acabou.
Mas a paixão foi transmitida de pai para filho e Michael Douglas resolveu levar o livro ao cinema. Entretanto, o fracasso econômico da peça fez com que os grandes estúdios ficassem um pouco resistentes com a idéia da adaptação para a tela grande, e o filme contou com um orçamento curtíssimo. Então pai e filho decidiram que o diretor deveria ser a estrela, e numa conversa com o amigo tcheco Milos Forman (diretor de Amadeus) eles perguntaram se um dia eles por um acaso mandassem um livro a ele, e este gostasse, ele aceitaria dirigir o projeto. Resposta: Sim.
O livro foi mandado a Milos, mas este não respondeu. 10 anos depois, eles mandaram novamente o livro ao tcheco, e agora ele respondera: vamos fazer o filme! Questionado por que não respondera antes, ele disse que nada havia chegado. O livro tinha ficado todo esse tempo na alfândega e o puto não foi avisado!
Para tornar o projeto financeiramente viável, entrou o terceiro produtor na parada: Saul Zaentz. Um chega, outro sai: Kirk Douglas. Após desentendimento com Saul e por ter sido considerado velho demais para o papel principal pelo próprio filho, Kirk vê seu sonho crescer de longe, mas no final obviamente aprovará tudo.
Com tudo preparado, restava o elenco. Para o papel principal foram considerados James Caan, Gene Hackman, Marlon Brando e Burt Reynolds, mas quem ficou com ele foi um talentoso e barato ator, Jack Nicholson. Entretanto, Jack tinha contrato com outra produtora e iria gravar outro filme. Mas por ser considerado perfeito para o papel, o filme ficou parado 7 meses por ele.
O casting do filme é maravilhoso, e os personagens muito verossímeis. Do projeto participaram os agora famosos Jack Nicholson, Danny deVitto e Christopher Lloyd, além dos premiados Brad Dourif (novato na época, fez o Língua de Cobra em O Senhor dos Anéis) e Louise Fletcher.
No trama, RP McMurphy (Nicholson) se faz de louco para sair da prisão e ficar numa clínica, onde a "barra seria mais leve". Mas ao não se adaptar à monótona rotina imposta pelo sistema do hospital, ele tenta adaptá-la a si, quebrando toda a rotina do local. Sua insanidade é até colocada em xeque pelos psiquiatras. Mas tudo o que Randall queria era liberdade.
Foucault disse que "A doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal.". O filme no fundo é uma crítica à psiquiatria e seus métodos: medicações, eletro choque e lobotomia (o último é deplorável), que eram aplicados não para corrigir o comportamento do cidadão, mas para assustar os outros e amedrontá-los de fazer o mesmo.
Pela rebeldia e carisma, Mac foi considerado um tipo de líder na "comunidade", pois era a quebra da rotina, era a diversão deles, ele era "um gigante" e representava o que eles desejavam e temiam fazer contra o sistema da instituição que os reprimiam e controlavam.
A liberdade que Mac queria era a impunidade, onde poderia agir livremente, de poder roubar um barco para um passeio, devolvê-lo depois e não ser preso por insanidade. Porém, sua liberdade desejada esbarrava com o absolutismo da bela enfermeira Srta. Ratched (Louise Fletcher), o capeta em forma de mulher. Tudo o que ela fazia, segundo ela, era visando o bem e recuperação de seus pacientes, mas a sempre calma e fria enfermeira só "colocava atrás" deles.
Essa critica sociológica se refere ao estado absoluto, onde ele julga saber o que é melhor para o povo, como se fosse uma criança. Ele controla e medica sua população, para ela "melhorar" e não escapar de seu controle. Um caso desses foi a Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro em 1904.
A liberdade de Mac é conquistada ao final do filme. Após o jovem Billy (Brad Dourif) se suicidar por conta da Srta. Ratched ameaçar contar à mãe dele que ele dormira com uma garota, amiga de Mac por sinal. Então o próprio Mac pula em seu pescoço e quase a mata estrangulada, se não fosse pelos seguranças do hospital. Esse sofre uma lobotomia por causa disso e de "problemas" anteriores, e fica em estado vegetativo. Ao "voltar" para a "comunidade" é liberado (morto sufocado por um travesseiro) por seu amigo e também paciente Chefe Bromden (Will Sampson). Este que após o feito, se considera "capaz" de fugir e viver, que Mac o fez um "gigante" como ele foi. Ele fez o que a terapia não conseguiu: deu ao chefe o tesão de viver.
A busca pela liberdade de Mac contra a repressão do sistema só acabou com a sua morte após ser lobotomizado. Ele foi poupado de um sofrimento terrível, e a principal crítica do filme/livro é quanto às técnicas da psiquiatria, baseada em estudos de Foucault. Essa densidade é um dos aspectos que torna Um Estranho no Ninho um filme perfeito. Tanto tecnicamente, quanto nas atuações, no roteiro, na trilha sonora e na direção. E diferentemente de alguns grandes clássicos conhecidos por sua densidade, como 2001: Uma Odisséia no Espaço, é muito engraçado. É base de estudos sociológicos e de cinema. É simplesmente do caralho!
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COMENTÁRIOS EXTRA-POST:
O filme me remeteu muito à Kubrick e Tarantino (pois assisti esses primeiro). O método de filmagem, os ângulos, os zooms durante as falas e alguns cortes me lembraram muito O Iluminado, fora o fato de Jack Nicholson ser um louco, preso num lugar, e que num determinado momento encontra e fode Scatman Crothers (fez Dick Halloran no filme de Kubrick). E a cena final do filme é muito tarantinesca, com a música de Jack Nitzsche ao fundo (Tarantino usaria uma música sua em À Prova de Morte) e o chefe escapando do hospital. Achei meio Kill Bill. Agora, que fique bem claro que este filme veio 5 anos antes d'O Iluminado e que Mr. Quentin ainda tinha míseros 12 aninhos em seu lançamento e nem sonhava fazer o que fez.
É um dos três únicos filmes que ganhou os 5 principais prêmios no Oscar: Filme, Diretor, Roteiro, Ator e Atriz. Ainda foi indicado a mais 4, venceu 6 Globos de Ouro e 6 BAFTA, entre outros.
Desculpas pelo palavreado na conclusão do post. É a emoção.
fade to black
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