Quando assisti 2001, só me veio um pensamento à cabeça: "O que foi que eu acabei de ver?"
INT - Noite - Quarto normal: uma cama, livros espalhados, filmes organizados, quadros na parede (entre eles um poster de Pulp Fiction), e um computador ligado à televisão.
Não entendi nada, mas gostei, e gostei muito
2001: Uma Odisséia no Espaço, dirigido, produzido e roteirizado por Stanley Kubrick, foi lançado em 1968. Considerado revolucionário, tornou-se instantaneamente um clássico. É o pai das ficções-científicas e aperfeiçoou os efeitos especias, sendo eles muito verossímeis até hoje (melhores até que Matrix Reloaded). E é tema de estudos em diversas áreas atualmente, como cinema (o que inclui fotografia, efeitos, roteiro, entre outros, afinal Kubrick era só um gênio), psicologia, história. Fora o fato de ser um filme altamente interpretativo, sendo que cada vez que você o assiste, tenha uma idéia diferente na cabeça.
2001 é uma obra em vários campos. Baseado num conto de Arthur C. Clarke, The Sentinel (1948), foi escrito e roteirizado por Kubrick e o próprio Clarke, que escreveu o livro simultaneamente com o roteiro. Kubrick não aceitou colocar seu nome como autor do livro para as pessoas não "misturarem" os dois, que apesar de serem aparentemente a "mesma coisa", o filme é extremamente mais interpretativo e com um número muito maior de questões deixadas em aberto.
Em 1965 Kubrick volta aos Estados Unidos da América pra produzir 2001, sendo que fora gravar seus filmes na Inglaterra para ter total liberdade, coisa que não teria em Hollywood. Mas após dois sucessos seguidos, Lolita e Dr. Fantástico, ele teve carta branca da MGM para produzir o que quisesse, e voltou ao seu país de origem (sim, ele é americano), onde haviam maiores condições financeiras e tecnológicas para produzir uma de suas obras-primas.
O filme é dividido em partes, sendo a primeira delas intitulado "A Aurora do Homem" que se passa 4 milhões de anos atrás, e mostra macacos lutando pela sobrevivência até o dia em que aparece o monolito, e então o "homem" descobre o uso da ferramenta. Essa parte do filme dura cerca de 30 minutos só com trilha sonora, gritos de macacos e a espetacular fotografia do mundo como era naquela época.
Com um corte que virou patente do filme, passamos da descoberta da ferramenta (um osso) para uma estação espacial na qual Dr. Floyd (William Sylvester) vai a Lua verificar "problemas" que lá ocorrem. Acontece que é um monolito, que envia um sinal a Júpiter.
Aí então, por volta dos 50 minutos de filme, começa o que parece ser a base do filme, por assim dizer, que acontece 18 meses depois do ocorrido na lua. É na nave Discovery, tripulada por Dave Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood), e mais três pesquisadores em estado criogênico e o famoso computador HAL 9000. E quando o incontestável Hal erra, é que começam os problemas da nave, não pelo seu erro, que foi insignificante, mas por que depois disso os astronautas creem que Hal poderia comprometer a missão, e pensam em desativá-lo, e o problema é que ele descobre isso.
A trilha sonora de 2001 é espetacular, e assim como usará em A Laranja Mecânica, é composta por músicas clássicas. Kubrick até chegou a contratar um compositor para criar uma trilha eletrônica original para 2001. Alex North fez tudo certo, foi pago e não teve a trilha utilizada por preferência pessoal do diretor, sorte nossa, pois as cenas do "balé espacial" com as naves e a caneta são geniais. E o fato de não ter usado atores famosos reforça a idéia de que o principal no filme é a história, deixando de lado atores que poderiam tirar o foco do telespectador.
Os ângulos de câmera também são marcas registradas do diretor, como na cena em que a "aeromoça" leva a comida para os pilotos da nave, ou nos exercícios de Dave. E como não dizer de Hal, um computador representado por uma luz vermelha e uma voz impassível (primeiramente gravada por Martin Balsan, mas a versão do filme é de Douglas Rain) que tem sentimentos e protagoniza uma cena de assassinato (com os corpos em criogênio) onde vemos toda sua vontade de matar os humanos, justamente por não ser um.
O tema principal do filme, pelo menos aparentemente, creio (nada é certo) que seja a relação do homem com sua ferramenta. No começo do filme é um osso, que depois se transforma em naves e em Hal, e aí é quando a própria criação do humano se vira contra ele. No livro, esse tema continua, sendo que depois que Dave está no quarto e está velho, ele revive sua vida de trás para frente, sendo ele o feto ao final do filme, observando a Terra, o maior instrumento do homem, sem poder tocá-la, mas sabendo de tudo que aconteceu/acontecerá. É claro que como o próprio mestre disse, não devemos misturar o livro e o filme. Portanto essa é só mais uma explicação para o que vemos.
O monolito é outra incógnita no filme, seriam eles vários ou é sempre o mesmo? Seria ele um alienígena, uma criatura de um poder maior ou simplesmente um tipo de Deus? Um pensamento que tenho é de que ele seria uma criatura com poderes (não necessariamente Deus), e foi ele quem deu a capacidade ao homem, como mostra o começo do filme, e que guiará o homem a um próximo estágio da evolução (que acontece com Dave no fim) e sapiência.
Enquanto assistia o filme, e Dave começa ao que parece mudar de dimensão, achei que o monolito tivesse explodido o universo, que ele seria um tipo de ser maior e que necessitava de energia. Claro que é uma teoria de história em quadrinhos que não sigo mais, mas que não é descartável.
2001: Uma Odisséia no Espaço é um filme impossível de ser completamente entendido, por deixar questões muito em aberto, por isso será sempre um clássico a ser pensado e re-assistido. Kubrick mesmo disse que se algum dia alguém entender tudo o que ele passou, ele falhou, pois nem ele entende completamente sua obra de arte.
CURIOSIDADES:
Toda a carreira de Kubrick foi permeada de lendas, mitos e conspirações, e uma delas se conecta justamente à mãe das conspirações: a de que o homem não foi a Lua. Mentira ou não, isso já reflete a importância do Sr. Stanley em diversas áreas. A teoria começa com o fato dele ter voltado para gravar 2001 nos EUA, onde teria recursos e "treino" para fazer sua sequência no ano seguinte: 1969, com Neil Armstrong no papel principal. E também a relaciona com a sua morte em 1999, quando estaria de saco cheio das mentiras e quisesse contar ao mundo a verdade sobre o que há (ou não há) lá fora. Sendo o FBI o causador de sua morte.
Aquela historinha do HAL e da IBM todos conhecem, não? De que a IBM era uma das maiores patricinadoras do filme e, ao retirar seus investimentos, deixou Kubrick tão possesso que colocou o nome do computador assassino com uma letra antes da letras da sigla (H antes de I; A de B; e L antes de M)
Este foi o único filme de Kubrick premiado pelo Oscar, e por efeitos especiais! Ou seja, a academia não entendia ele, não é possível!
Espero que tenham gostado da resenha, pois ela deu trabalho. E por favor, deixem suas teorias sobre 2001 aqui nos comentários, pois é por elas que eu escrevi isso tudo. Pois gostaria de ver por vários pontos de vista.
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