15/03/2010

Pensamentos #1 - Vidas Secas

EXT - DIA - Nordeste brasileiro, região semi-árida: tudo que se vê é areia. Uma família de 4 pessoas, um papagaio e uma cadela vira-lata pequena andando. A mãe carrega uma espécie de baú na cabeça, um filho de 4 anos e o papagaio, na gaiola; o Pai leva a espingarda e um alforje. O outro filho de 7 anos levava uma trouxa na cabeça. Nenhuma palavra.


Esta seria a abertura de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, num filme. O livro segue mais ou menos essa toada até o fim, com pouquíssimos diálogos, por conta da condição social da família, que não sabe se expressar, posi tem um vocabulário muito pobre. Com certeza seria um filme muito difícil de ser feito, e o único que vem na minha cabeça que chega perto disso seria o filme que eu mais comento nesse blog: 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Agora, imaginem: Vidas Secas (Dry Life's) por Stanley Kubrick. Seria um tanto bizonho.

Sempre quando leio um livro eu o imagino como um filme, todos fazem. Só que eu imagino cenas, atos, falas e, especialmente, o roteiro. E Vidas Secas, meu livro do momento (comecei a ler para a escola) é um livro que eu simplesmente pensei "ok, esse aqui é um que não dá para filmar", mas bem que eu queria morder a língua assim como todos que falaram o mesmo de O Senhor dos Anéis.

Esta obra de Graciliano Ramos é, na minha opinião, impossível de ser filmada pelo fato de conter pouquíssimos diálogos, ser muito arrastado e também pela principal qualidade do livro: ele te coloca dentro de cada personagem. E isso é literalmente, pois nos capítulos que se tratam dos filhos, você lê e se sente como eles. A forma como foi escrita te faz revisitar todas as suas lembranças daquela época, que são como flashes, meio turvas e não muito certas. A não ser que fosse uma obra um tanto quanto psicodélica - no sertão, que ficaria demais. E mesmo sendo assim seria muito difícil se obter um bom resultado.

Na verdade existe sim um filme de Vidas Secas, muito fiel ao livro inclusive. Foi filmado na década de '60, em preto e branco, com um orçamento baixíssimo e a qualidade de áudio e imagens - fora as atuações - de dar pena.
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Ok, na verdade eu acabei de me fuder. Desculpem o palavreado, mas é que foi bem tenso. Pesquisando sobre o filme aqui, descobri que parece ser um dos maiores filmes brasileiros, indicado à Palma de Ouro em Cannes e considerado um dos precursores do novo-cinema brasileiro. Queimei a língua foda.
Agora, preciso assistir este filme pois só vi os primeiros 10min e dormi (na aula). Não sei se a má-qualidade era culpa da gravação ou se o filme era assim mesmo. Se for, claro, por problemas técnicos/financeiros, ainda é difícil de ouvir!

Bom, minha teoria foi por água abaixo, eu ainda ia falar que se fosse cineasta quereria gravar filmes como este, Capitães da Areia e O Cortiço (mesmo que já tenham sido filmados). Ia falar que até tenho vontade de ter uma cadelinha e nomeá-la Baleia, por causa de Vidas Secas. Mas já chega por hoje. Assistirei o filme até o final e depois eu comento de novo.

fade to black

Um comentário:

Anônimo disse...

Obra psicodélica no sertão me fez rir litros..husahsauhas