27/11/2010

Balanço do Mês: 2nd-Half-Novembro

Os times voltam ao gramado, o juiz apita e comeeeça o segundo tempo!

#01 - O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla (1968) - Muito Bom!
Um excelente filme brasileiro que vai contra o movimento contra o Regime Militar, o Cinema Novo. Chamado de Cinema Marginal, tem uma narrativa completamente diferente dos filmes hollywoodianos e critica fortemente o Regime com muita ironia (o delegado Cabeção é ótimo!).

#02 - Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen (1992) - Esperava outra coisa
Eu sou fascinado por história, e os movimentos fascistas são MUITO interessantes. Este filme fala de todo o perído nazista na alemanha (1933-1945), mas seu foco é a arte no nazismo, apesar de interessante é bem chato (eu prefiro geo-política, que é deixada de lado), e o anti-semitismo, contada de uma maneira bem parcial. É interessante, mas não o teve o foco que eu esperava, fora a forte monotonia.

#03 - Rede de Intrigas, de Sidney Lumet (1976) - Top10
Que Filme! Merece seu próprio post! É uma crítica muito bem feita aos meios de comunicação em massa (então uma crítica a si mesmo) e à índole humana.

#04 - Yellow Submarine, de George Dunning (1968) - Muito Bom!
Muito diferente dos filmes de animação a que estamos acostumados, este é um delírio para os Beatlemaníacos, além de conter vários easter-eggs da "mitologia" Beatle, é um filme surrealista de primeira qualidade! (nossa, que comentário de contra-capa de DVD). Merece um post próprio assim como Across The Universe.

16/11/2010

Balanço do Mês: Outubro e Half-Novembro

Quanto tempo se passou, quantos filmes já vi, quantos outros preciso ver, quantas coisas pra fazer, pra falar, pra resolver, tudo nesse mês. É cara, tá corrido. Aqui vou fazer uns comentários sobre os filmes que lembro que vi, eles merecem um post próprio, mas tá dificil. Quando der, eu faço.

#01 - Tropa de Elite, de José Padilha (2007) - Sensacional
O próprio comentário do Tropa que fiz aqui no Le Gamaar (ver na caixa Melhores Resenhas) mostra minha admiração pelo franco crescimento do cinema brasileiro. O filme pode sim ser considerádo dúbio, pois é contado pelo ponto de vista do Capitão Nascimento, que defende todos os seus argumentos. Entretanto, numa análise mais fria e distante, percebemos toda a inteligência do roteiro. ATUALIZADO: Acabei de ler que na Europa, o Capitão Nascimento é visto como Vilão, ou seja, sob uma cultura diferente e alheio aos problemas retratados no filme, este foi "corretamente" interpretado.

#02 - Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood (1992) - O melhor em 40 anos
Impecável.

#03 - Por um Punhado de Dólares, de Sérgio Leone (1964 - Itália) - Clássico
Primeiro filme da trilogia mais clássica dos Westerns, é um dos filmes mais referenciados do cinema, tanto quando se parodiam westerns, até na utilização de tomadas, planos, uso de músicas e construção de personagens.

#04 - Tiros em Columbine, de Michael Moore (2002) - Interessante
Revela uma faceta estadunidense medrosa, filha, principalmente, do governo Bush e do consumismo e patriotismo de um dos impérios mais estúpidos da história.

#05 - Tropa de Elite 2, de José Padilha (2010) - Um soco na cara!
Faz tempo que estou para escrever um post para a segunda obra-prima de Padilha. A impressão que ficou para mim é que ele desistiu de todas as sutilezas do primeiro filme, como citar Foucalt. Foi como se ele tivesse dito "Não entendeu o primeiro filme vagabundo? Então Toma!", fato que se mostra com ele tendo que desconstruir o agora Tenente-Coronel Nascimento.

#06 - Donnie Darko, de Richard Kelly (2001) - Superestimado
O filme possui vários pontos positivos, e tenho dúvidas se minhas reticências quanto ele sejam verdadeiras ou pelo fato de eu querer não gostar de um filme cultuado só pra falar que entendo. Eu não entendo, só tento aprender. No entanto, acho que falta maturidade na direção (comentário vago).

#07 - Cidadão Kane, de Orson Welles (1941) - Classicasso!
Também merece um post só dele, daqui a um tempo, pois tal filme merece ser bem estudado.

#08 - Um Parto de Viagem, de Todd Philips (2010) - Engraçadinho
O roteiro é fraco e algumas piadas são batidas. Mas eis que vem Zach Galifianakis e salva o filme! Ele é muito engraçado e compensa a falta de originalidade de Robert "Stark" Downey Jr. Uma coisa que me agradou bastante foi que eu lembrei bem do Assassinos por Natureza (filmasso que terá um post gigante) por conta das atuações de Downey Jr. e Juliette Lewis (a sumida voltou!) e por tocar "Sweet Jane" dos Cowboy Junkies, que compõe sua trilha sonora.

#09 - O Mágico de Oz, de Victor Fleming (1939) - Classicasso! [2]
No começo podem achá-lo tosco, mas Dorothy e toda a mitologia de Oz é uma das mais clássicas referências do cinema. Além de ser lindo, com uma excelente mensagem de vida, tem todo um contexto político-econômico da virada do século XIX para o XX nos EUA metamorfoseado nas personagens, leia-o aqui.

#10 - A Missão, de Roland Joffé (1986) - Histórico
Denuncia, brilhantemente, como foi construída a sociedade Latino Americana pelos Europeus, até a Norte Americana pode entrar no contexto. Também merece um post próprio. Com ótima atuação de DeNiro, no auge.

#11 - Sex and the City 2 - Fútil
Uma BOSTA! Muito Fútil e Bobo. LIXO FODA.

#12 - Santiago, de João Moreira Salles (2005) - Excelente
Documentário que vai muito além do tema Santiago, mordomo da família Salles. Trata da relação de duas pessoas (no caso João e Santiago), de velhice, de fantasiar e de como se faz um documentário.

27/10/2010

Donnie Darko [2001]

Desapontado. Assim foi como eu me senti ao final de Donnie Darko, estréia de Richard Kelly na direção e o grande papel de Jake Gyllenhaal ao lado de O Segredo de Brokeback Mountain. O filme está longe de ser ruim, mas não é um dos melhores filmes de todos os tempos como eu havia ouvido falar.

O filme é até muito bom, mas falta algo que você olhe e fale "Nossa Senhora! Esse filme é muito foda!". E pode se creditar isso à uma insegurança na direção, talvez por algumas imposições do estúdio ou pela inexperiência, fato é que pesou, tanto que Kelly não realizou mais nenhum grande filme.

O argumento é bom, as críticas são bem construídas e a atuação de Jake é excelente. O roteiro é inteligentíssimo, assinado pelo próprio diretor, e a trilha-sonora, super-estimada. O que mais me incomodou no filme é a semelhança estética com O Advogado do Diabo, como as nuvens correndo rápido para passar o tempo e os flashes de luz, da qual não gosto muito (apesar de achar o filme do Pacino bem legalzinho).

Donnie Darko adquiriu status de cult, e apesar de considerá-lo super-estimado, é muito bom e merece o título supracitado. As reflexões que ele possuem vários níveis, o mais baixo que é discutir a trama é bem complexo, até o maior, que é a relação de Donnie com a sociedade e as críticas feitas à ela, mais no aspecto humano que institucional.

21/10/2010

Tiros em Columbine [2002]

Como podemos definir Michael Moore, diretor de Tiros em Columbine? Um Gênio, um Messias, a reencarnação do Gandhi? Não, nada disso. Ele é apenas mais um americano, a grande diferença é que ele é um puta cara sensato.

Ele tem a cara de um americano médio, o jeito de um americano médio, até o peso de um americano médio. Seus filmes? Ficam fazendo média com o público, tal qual Nascido em 4 de Julho, uma crítica ao sistema americano que cai em contradição e utiliza clichês e sequências batidas. Como tocar What A Wonderful World numa sequência de cenas de violência e citações de fatos criminosos do governo estadunidense.

Entretanto devemos jogar seus filmes no lixo? Claro que não. Pelo contrário, todos deveriam assistí-los. Tanto os dirigidos, escritos e protagonizados por ele, quanto os produzidos, como o The Corporation (excelente). Eles dão o que pensar e discutir sobre a sociedade capitalista na qual vivemos, principalmente nos EUA, claro, mas como eles são "o centro do universo" mesmo, tá valendo.

Para mais informações leia esta resenha do Scream & Yell (em português). #ficadica

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10/10/2010

Paralelo #01: Por Um Punhado de Dólares [1964] & Os Imperdoáveis [1992]

Ambos protagonizados por Clint Eastwood, são clássicos do western. Entretanto enquanto um foi o grito de um novo modo de se fazer cinema, o outro foi uma homenagem e um ponto final num dos gêneros mais populares da história.

Em decadência na década de '60, os heróis perfeitos e arrumadinhos do western americano estavam fadados à geladeira. Eis que surge o italiano Sergio Leone e revoluciona o tema "oficializando" o western-spaghetti (que antes "engatinhava") com Por Um Punhado de Dólares, filme baseado no clássico samurai Yojimbo, de Akira Kurosawa.

Em seu filme não há maniqueísmo (a existência definida de Bem e Mal), o herói se suja, apanha e é tão escroto como seus inimigos, mas ainda tem sentimentos e por isso é muito mais humano. Outra característica é o simbologismo religioso, o protagonista chega à cidade numa mula, temos uma cena de um banquete que remete a Santa Ceia e após o protagonista ser dado como morto, ele retorna.

O terceiro grande expoente do cinema que surgiu nessa fita (além de Sergio Leone e Clint Eastwood) foi Ennio Morricone, um dos maiores compositores de todos os tempos. Suas músicas compõe uma trilha sonora incidental magnífica, que dá o tom do filme e define o Homem Sem Nome, protagonista vivido por Clint.

Sergio Leone e os westerns depois dele são um dos maiores influenciadores do cinema moderno. Quentin Tarantino, por exemplo, já disse publicamente que usa vários elementos dos filmes de Leone nos seus. Assim como os grandes filmes do cinema brasileiro da Retomada, como Cidade de Deus (muito influenciado por Tarantino, portanto, consequentemente, pelos westerns) e Tropa de Elite (a cena final, do "na cara não, pra não estragar o velório" é muito parecida com a cena final de Os Imperdoáveis).

Os Imperdoáveis, de 1992 é dirigido pelo próprio Clint Eastwood que, competentíssimo, mostra que aproveitou sua experiência com Leone. O filme segue os mesmos preceitos do western-spaghetti, entretanto, seus personagens são mais profundos e o roteiro mais denso. Ele trata da velhice (temas recorrentes de Clint) e da violência, tanto de quem faz, quanto de quem recebe, de quem a glamoriza e quem a quer esquecer.

Considerado na época ser o melhor western dos útllimos 20 anos, ou seja, de 1972 a 1992, ganhou vários prêmios, entre eles os Oscar's de melhor filme, diretor e ator coadjuvante. E, caso não surja um belo exemplar nos próximos 2 anos, será o melhor filme num período de 40 anos. O que não é pouca m.
Ambos os personagens de Clint são muito parecidos, pode-se até considerar um reprise. O Homem Sem Nome é quieto, sisudo, sem amigos e oportunista, está na cidade para ganhar dinheiro e tira de quem puder. Entretanto, ajuda Marisol e sua família e fica companheiro do dono do bar e do cara que constrói caixões.

Já William Munny é velho, tem Um amigo e é maduro, sua falecida esposa ensinara-o que a violência não compensa, e ele saíra dessa vida. Apesar disso, quando surge uma encomenda para matar um cara que cortara a cara de uma puta, ele aceita, mas o faz mais para se redimir de matador de mulheres e crianças do que pelo dinheiro.

Enquanto no filme de Sergio Leone quase todos são aproveitadores, no filme de Clint eles têm seu próprio senso de justiça e seus atos têm motivos, criando um protagonista e um antagonista opostos pelos interesses e ideologia.

Ambos os filmes são os extremos da vida do western moderno, um foi o precursor, e o outro um "desfecho" em altíssimo nível. Aluno número um da escola de Sergio Leone, Clint Eastwood motra que tem todo o potencial de ser um dos maiores diretores, pois o maior do cinema ele já foi, sendo maior que Stallone, Bruce Willis e qualquer outro mercenário, e até do que Wagner Moura.

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Este Paralelo foi inspirado pelo Filme Ideal e pela enorme preguiça de escrever dois post's sobre filmes com tanta coisa em comum.
PS: Capitão Nascimento Rulez!

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08/10/2010

Tropa de Elite [2007]

“Usualmente não é o caráter de uma pessoa que determina como ela age, mas sim a situação na qual ela se encontra.”

Stanley Milgram.

Um dos maiores sucessos e um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Tropa de Elite é muito mais do que tapa na cara e pé na porta, saco na cabeça e vassoura no rabo. Este filme faz uma análise crítica social que vai muito além da superficialidade.

Assim como 2001: Uma Odisséia no Espaço, filme e livro (Elite da Tropa) foram co-produzidos quase que ao mesmo tempo, sendo o livro um pouco depois, na fase final do roteiro. Roteiro esse que ficou nas mãos de José Padilha (diretor), Rodrigo Pimentel (ex-BOPE) e Bráulio Mantovani (Cidade de Deus), e ficou sensacional, com a cronologia quebrada e um protagonista definido pela sua narração em off.

O filme se passa em 1997, às vésperas da visita do então Papa João Paulo II, que deseja ficar hospedado próximo à favela. A missão do BOPE é garantir que o Papa não tome um tiro, e quem a encabeça é o mitológico Capitão Nascimento (baseado em Pimentel). Acontece que o Capitão é um personagem com profundidade, sua mulher está grávida e ele deseja se retirar da linha de frente do BOPE, mas precisa de um substituto. É aí que entram Neto e Mathias, dois aspirantes a PM que não se envolvem com as gambiarras dos azuis.

Tecnicamente, Tropa é impecável e com cara de documentário, já que é o primeiro projeto de “ficção” de José Padilha, oriundo do cinema documental (Ônibus 174). O filme inteiro é filmado com câmera na mão, os atores não tinham marcação fixa e todos os diálogos do filme (todos) foram improvisados (obviamente, o filme não foi feito de uma só tomada, mas quem criou os diálogos foram os atores em conjunto com a equipe).

E no aspecto de crítica social, Tropa é arrebatador. Subestimado por muitos, a fita tem sido interpretada por muitos como uma ode à tortura policial, que os traficantes são culpados por tudo, que os playboyzinhos são de merda e que se tivéssemos mais capitães Nascimento por aí o problema da violência no Brasil estaria resolvido.

Realmente, os playboyzinhos são de merda. Mas o problema da violência não é causado pelos traficantes, estes são o meio. E os pleiba’s financiam um problema causado pelos pais deles, pelas elites dominantes (o governo). E a maior prova disso é a citação no começo do texto. Os problemas sociais vividos no Brasil hoje têm origem secular, na verdade, começou em 1500.

A concentração de renda e a desigualdade social no Brasil começaram com o sistema de capitanias hereditárias e continuam até hoje pela falta de reformas e predomínio elitista no governo durante toda história do Brasil, que não se interessam por igualdade social já que seu interesse é enriquecer cada vez mais.

Exemplos desse pensamento estão explícitos no filme. O trabalho de sociologia de Mathias na faculdade é sobre Foucalt, que, resumidamente, revolucionou os estudos sobre formas de governo modernas, e diz que as fontes do poder (não só o governo, mas a polícia, as elites econômicas, etc.) formam instituições perversas, que beneficiam os ricos e punem quase que exclusivamente os pobres (tudo isso é DITO no filme).

A elite que historicamente é a “causadora” da desigualdade (pois não há elite sem ralé) financia o tráfico e depois se protege em sua bolha nos Jardins ou no Leblon, com seus carros importados e roupas de marca, vivendo em um círculo tão fechado que nem vê o resto da população miserável.

Assim, o título Tropa de Elite pode ser interpretado como a melhor de todas as tropas (que fica muito mais explícito no título do livro) ou como que os servidores públicos armados (PM, BOPE, GARRA, Exército, todos) são da Elite, e não da População.

Dessa população esquecida que saem os traficantes, os bandidos, os ladrões. Só dizer que eles são uns vagabundos que não querem trabalhar é colocar a sujeira embaixo do tapete e continuar trancado na bolha em que toda a classe média-alta vive. Pois, continuando no pensamento de Stanley Milgram, eles só agem assim por causa do meio onde vivem, no qual poucos estudam e conseguem emprego, e menos ainda conseguem sucesso no sentido capitalista do termo.

Entretanto, isto não redime os traficantes. Se eles têm um “motivo entendível”, seus atos continuam sendo crimes. Mas tão violentos e absurdos quanto os do sistema de segurança pública, se não que estes são piores, e ainda são embasados pela lei.

Sobre a corrupção policial não é necessário dizer nada além do que o filme mostra. Contudo, ainda há a frase inicial do filme que, assim como com os traficantes, mostra que a causa (e não a desculpa) disso não são eles, e que tal fato acontece por uma profissão tão perigosa (que só existe por causa de criminosos, que só existem por causa de desigualdade social) receber tão pouco.

O próprio Cap. Nascimento, que é visto por MUITOS como a solução, é uma caricatura crítica. Ele é um anti-herói glamurizado, ele tortura todos na favela para conseguir sua obsessão, e admite isso com remorso em sua narração em off no último capítulo do filme:

“O que eu estava fazendo não era certo. Eu não podia esculachar os moradores para encontrar um bandido. / Naquela altura do campeonato, amigo, pra mim tava valendo tudo. Nada nesse mundo ia me fazer parar.”

E logo em seguida outro comandante que estava com ele leva sua tropa embora por não concordar com o que ele estava fazendo. E que mesmo assim só fazia por querer restaurar a paz em seu lar e voltar para a recém-formada família, pois como bem resume, ele é o capitão NASCIMENTO.

Tropa de Elite, ao invés de ficar apontando culpados determinados como tantos fazem, confirma que o problema é social e envolve um contexto muito amplo e complexo de um problema que precisa ser urgentemente resolvido desde os primórdios da humanidade. E só consegue isso pelo realismo imprimido pelo projeto dirigido por José Padilha, que fez um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos, que venha Tropa de Elite 2!

26/09/2010

Balanço do Mês: Setembro [Atualizado]

O Balaço do Mês foi feito um pouco mais cedo neste, e agora atualizado, que se fez necessário devido à grande quantidade de filmes que não comentei por causa da escola (reta final, né?) e do post sobre Laranja Mecânica.

#01 - Duro de Matar, de John McTiernan (1988): Clássico de ação
O papel que alavancou a carreira de Bruce Willis serviu nele como uma luva! Excelente ação com um roteiro coeso e redondo. Um brucutu que resolve tudo sozinho, mas ao mesmo tempo apanha. Grande entretenimento.

#02 - Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971): Indescritível
Obra-prima de um dos grandes mestres do cinema! Perfeito em todos os aspectos, não é bem aceito pelo grande público por conta da violência exagerada: abram os olhos meus amigos, este é o mundo no qual Vocês vivem e não dão atenção!

#03 - Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein (1925 - União Soviética): Revolucionário
Situado na primeira revolução burguesa na Rússia, em 1905, conta a história dos marinheiros e fuzileiros que se amotinam contra os oficiais, gerando uma onda de amotinações. Revolucionário, Eisenstein criou elementos que estão presentes no cinema até hoje, como a fusão de planos, além de usar de metáforas visuais. Até hoje é visto como um dos melhores filmes de todos os tempos.

#04 - Gente Grande, de Dennis Dugan (2010): light
Com Adam Sandler, que vem sendo bem criticado pelos "especialistas" em cinema ultimamente. Eu, particularmente, gosto dos filmes dele, são leves, engraçado (não histéricamente engraçados, mas engraçadinhos) e sempre passam uma mensagem para você viver melhor, seja feliz. Típico filme família. Uma espécie de Mercenários da comédia, já que conta com Rob Schneider, Chris Rock e "grande elenco".

#05 - O Preço de um Resgate, de Ron Howard (1996): Tenso
Você acredita o tempo inteiro já saber o final e se surpreende com a reviravolta. A tensão é muito bem feita e as atuações de Mel Gibson e Gary Sinise são excelentes. Bom entretenimento.

#06 - Até o Limite da Honra, de Ridley Scott (1997): Entretenimento vazio
Um diretor instável, é o que se pode dizer de Ridley Scott, que realizou grandes filmes e outros não tão bons assim. Este é um exemplo de um filme divertido, e que não passa disso. Mesmo com alguns buracos no roteiro, Demi Moore sempre é um motivo para assistir um filme.

#07 - Nascido em 4 de Julho, de Oliver Stone (1989): Contraditório
Muito bem dirigido e com um ótimo argumento, este é um aclamadíssimo filme de guerra e crítica à Guerra do Vietnã. Entretanto, uma análise mais minuciosa mostra como até o quem é inteligente, crítico e estudado (Oliver Stone), pode cair em contradição, criticando um sistema do qual ele não consegue fugir totalmente para realizar sua produção. Leia sobre isso aqui.

#08 - Casablanca, de Michael Curtiz (1939): Clássico
Fora as grandes atuações, tomadas e a bela música, Casablanca não se baseia só no romance entre Rick e Ilsa, e revela todo um contexto histórico verídico que serviu de propaganda norte-americana. Todo o contexto social da época é verdadeiro e o final enigmático, uma metáfora. A garrafa de champagne, com o rótulo Vichy, jogada no lixo, faz alusão à queda dos Nazistas na França, "salva" pelos EUA. (Ler sobre: República de Vichy)

24/09/2010

Totalmente Kubrick #03: Laranja Mecânica [1971]

"Stanley era o grande mestre do cinema. Ele nunca copiou ninguém, ao passo que todos nós lutávamos por imitá-lo"
Steven Spielberg.

Seria A Laranja Mecânica uma futurista apologia à violência ou uma crítica paralelista? O clássico tem várias interpretações, é perturbador, denso e violento, ao passo que é fascinante, divertido e musical. Outra obra-prima de Stanley Kubrick a ser dissecada a cada detalhe.

- Vamos lá! Acabem comigo covardes desgraçados! Eu não quero viver mesmo! Não neste mundo fedorento!
- O que há de tão fedorento nele?
- É fedorento por que a lei e a ordem não existem mais. É fedorento por que deixa que os jovens batam nos velhos, como vocês estão fazendo. Não é um mundo onde um velho possa viver!

Baseado no livro homônimo de Anthony Burguess, de 1962, A Laranja Mecânica é constantemente relacionada à 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Todos são uma espécie de distopia pós-revolução industrial. Criticando o novo modo de vida da sociedade: automático, anti-social, acomodado e mecanizado.

Como um ciclo sem fim, a vida imita a arte, que imita a vida imitando a arte. O impacto causado pelo filme à época de seu lançamento foi estrondoso. Muitos entenderam a obra e acharam-na fantástica, outros não e a repudiram, mas a corrente que mais chamou a atenção foi a onda de crimes que sucederam a estréia, gangues de adolescentes que, para se livrar, diziam que só fizeram o que fizeram por influência do filme.

Devido a tais ocorrências, Kubrick retirou a fita de circulação na Inglaterra, onde vivia, até a data de sua morte. Chateado por interpretarem o oposto do que ele quis passar com o filme, esse ato foi mais para a proteção de sua família, pois havia o risco de acontecer com ele o mesmo que aconteceu com o velho escritor na primeira parte do filme, já que ele morava numa afastada casa numa zona rural da Inglaterra.

O filme é dividido em três. A primeira parte mostra Alex (Malcolm Mcdowell), o protagonista e líder de uma gangue de adolescentes, vivendo sua vida e praticando um pouco de sua adorada ulta-violência, tomando o leite "batizado" no Korova Bar. Os estilos de gangues uniformizadas de maneira simples e esdrúxula, lembra o vindouro filme The Warriors - Os Selvagens da Noite, que se passa em um "futuro próximo" onde gangues dominariam as cidades.

Com uma virada na trama, Alex acaba sendo traído pelos companheiros e preso. O segundo ato se passa na “reabilitação” do “nosso sofrido narrador”, o que inclui sua passagem pela prisão e depois o Tratamento Ludovico. Supostamente curado, o terceiro ato conta sobre a reinserção de Alex na sociedade, que o escurraça da mesma maneira que ele fez com ela e, após tentar se matar, “cura-se” e volta a ser o mesmo personagem do começo, só que agora com apoio do estado.

A circularidade das coisas, visivelmente (organização de elementos) e na trama: o Alex do final volta a ser o Alex do começo, assim como suas visitas à lugares e pessoas que ele já encontrara anteriormente na fita. O conflito Homem vs. Máquina, o conformismo, e a violência são temas recorrentes em trabalhos de Stanley Kubrick, e se apresentam em peso nessa obra.

A principal crítica que o filme faz é à moral da sociedade moderna conformista, violenta, libidinosa, corrupta, sem valores e imperativista. Por isso torna-se um erro considerá-lo futurista, pois como o próprio diretor falou, é uma “fábula”. É um paralelo com o modo de vida desse século, os problemas apresentados no filme já existiam à época de seu lançamento. E a prova disso é sua atemporalidade: a decoração e arquiterura dos ambientes, as roupas, os penteados femininos e o linguajar dos adolescentes nunca existiram, mas coexistem com um fusca e uma kombi, que servem de lembrança para as pessoas de que não se trata de uma ficção.

Além disso, o filme é uma crítica à violência, e não uma apologia à ela. Seria Alex tão mau e inescrupuloso se a sociedade na qual ele vive não fosse assim? A doutrina do sistema (governo, mídia e religião) impõe um modo de vida igual à todos. A mídia alienizadora prega uma sociedade conformista, na qual o consumo sempre fica em primeiro plano, acabando com a individualidade mas ao mesmo tempo aumentando o egoísmo e o isolamento de cada um, tornado o indivíduo cego aos problemas à sua volta.

Não seria, então, a ultra-violência uma forma não muito ortodoxa de Alex se destacar dos demais? Afinal, ele era um personagem de inteligência, sarcasmo e gosto cultural refinado, sendo seu músico preferido ninguém menos do que Beethoven. Segundo Kubrick "Alex é daqueles personagens que pela lógica seria incapaz de atrair qualquer tipo de simpatia entre o público que assiste ao filme. No entanto, ao longo do filme, ele consegue nos atrair para ‘o seu lado’ e toda a desconfiança e antipatia que pudéssemos sentir por ele desaparece". Seria então essa simpatia por Alex uma subconsciente aprovação a uma revolta tão podre quanto tudo que se apresenta ao redor dele?

Após ser “curado”, (aos olhos da sociedade, pois ele continuava sentindo as mesmas coisas de antes, só que acomete-se um mostruoso enjôo toda vez em que deseja praticar violência), a própria sociedade não estava curada para ele. Tornando-se vítima da brutalidade desta em que vivia, e dessa vez sem chance de resposta. Ele fora psicologicamente lobotomizado, quase como RP McMurphy, personagem de Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho, que seria lançado 4 anos depois e apresenta uma crítica semelhante ao sistema alienizador.

O mais curioso sobre o Tratamento Ludovico, no entanto, é que ele está presente durante todo o filme, sendo aplicado ao telespectador. Afinal, ele não consiste em mostrar imagens de violência extrema combinada à música clássica? Em resposta poderia se dizer que o espectador não está amarrado à uma camisa-de-força e nem impossibilitado de piscar. Mas quem que se propõe a assistir Laranja Mecânica consegue parar antes que o filme acabe? Ele é esteticamente tão bem feito que é impossível não ver.

A decadência da estrutura familiar está escancarada nos imbecis pais de Alex; o Ministro do Interior é a personificação da hipocrisia e podridão dos governantes. Para não ficar desmoralizado perante a opinião pública, faz um acordo com quem ele acabara de condenar, e chega ao ponto de dar-lhe comida na boca; Mr. Deltoid, contratado para “ajustar” Alex, se preocupa com ele só para não sujar seu nome na praça. Representando os interesses do capital, é tão estúpido que bebe água de um copo com uma dentadura dentro; E nem mesmo o inocente e vitimado escritor, opositor ao governo, escapa ao sadismo e decadência (mesmo tendo todos os motivos para tais atitudes), vira um personagem quase que demoníaco. E, para finalizar, a Mulher-gato e o todo o cenário urbano (destaque para o Korova Bar) que denunciam toda a libido da sociedade, que perdeu todos os valores morais, tal qual a sociedade alemã às vesperas da ascensão do nazismo, como retratado em Os Deuses Malditos, de Luchino Visconti.

Assim, Alex pode ser visto tanto como um opositor contra tal sistema, pois sofre agressões de e agride a todos, quanto uma simples consequência de injustiças sociais e da desmoralização da própria organização social do homem. Se tornando, nesse meio, um ser tão bizarro quanto uma laranja mecânica. A laranja, uma fruta cheirosa, bonita que possui um suco nutritivo delicioso, só na aparência, pois dentro é só engrenagens se movendo conforme ordenada, assim como cada indivíduo a que falta identidade.

A Laranja Mecânica é mais uma obra prima de Stanley Kubrick, conhecido por seu perfeccionismo e por trabalhar nas falhas (imperfeiões) humanas. Tecnicamente impecável em qualquer aspecto, sugere diversas discussões sobre a organização social e o homem como indivíduo. Perdido, conformado, rodando como uma engrenagem de um sistema há muito obsoleto.

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Curiosidades: veja na wikipédia.

Fontes de pesquisa:
1. Recanto das Letras
2. Cinema é Minha Praia
3. Fórum Media

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18/09/2010

Duro de Matar [1988]

Numa época de filmes com muitas explosões e pouco roteiro, Duro de Matar chega ao final da década para unir o melhor do gênero e virar um clássico!
Como um protagonista menor do que o usual, e vindo da comédia (Gato & Rato), Bruce Willis se tornou um dos maiores brucutus de todos os tempos. Sua ironia e canastrice encaichou em John Mclane e, mesmo não sendo um ator versátil e dramático, é perfeito para o papel.
O melhor do roteiro, dito simples, é que ele se abre em várias frentes. Critica a ineficiência da polícia, a "esrotice" da imprensa e mostra todos os ramos possíveis a ser abertos pela consequencia do sequestro de um prédio. Fora o fato do plano do vilão ser genial, as ações de John Mclane são igualmentes desesperadas e inteligentes.

John Mclane é um exército de um homem só, mas não é enorme como Stallone e Schwarzenneger. Acabou com os terroristas sozinhos, mas apanhou pra caramba. Fez tudo sozinho, mas errou, é humano, apanhou e, no final, contou com a ajuda do policial amiguinho.

Duro de Matar surgiu como uma homenagem aos filmes de ação da década de '80, cita Rambo e Exterminador do Futuro, tem um roteiro e argumento aparentemente mais simples que os citados, entretanto, é melhor executado e bem-sucedido, se tornando um clássico do gênero.

04/09/2010

Balanço do Mês: Agosto

Meio que com poucos posts... alguns filmes, mas certamente uma ótima recomendação: a matéria sobre 2001: Uma Odisséia no Espaço, do site "Saindo da Matrix". É o tipo de interpretação que eu busco no blog e nem sempre tenho feito. E uma muito melhor sobre a obra de Kubrick que eu mesmo fiz. Dito isso, vamos ao balanço do mês:

#01 - Watchmen, de Zack Snyder (2009): Divertidasso
Apesar de algumas falhas, como algumas músicas (apesar de excelentes) que não encaixavam, e ao exagero hollywoodiano do diretor com sua adora câmera lenta, este filme é um excelente pipocão, agrada e nos deixa com muita vontade de ler os quadrinhos e conhecer mais sobre essa "mitologia" fantástica.

#o2 - Amarcord, de Federico Fellini (1973): Obra-prima
Fiquei devendo um post sobre a primeira obra que assisti de Federico Fellini e já posso dizer que o diretor é excepcional! O filme que retrata a simples vida numa cidade pobre no interior da Itália (a que ele nasceu) é genial e sincero como poucos. Fellini usa até um personagem como seu porta-voz, que olha para a câmera e fala com você. Além de ser hilário, claro, afinal, é uma comédia.

#03 - O Paciente Inglês, de Antony Minghella (1996): Excelente
Outro excelente filme que eu fiquei devendo um post. "Típico filme vencedor de Oscars", levou nove. Retrata a história de um paciente de guerra, por meio de flashbacks, e mostra sua atual situação, ao final de 1944. Excelente roteiro, atuações e direção, é um filmaço.

#04 - Valsa com Bashir, de Ari Folman (2008 - Israelense): Provocador
Um FILMASSO! Mostra de maneira crítica a guerra no Líbano e o massacre de Sabra e Shatila. No fundo, faz uma crítica ao homem e sua ganância. Genialmente feito em animação, é lento e pesado. Mas muito bom para refletir.

#05 - Os Mercenários, de Sylvester Stallone (2010): Testosterona
Totalmente ao contrário do filme anterior, é pura ação. Entretanto, a falta de roteiro, atuações ou direção é compensada por quase todos maiores brucutus do cinema da década de 80 e muita testerona, com explsões e mortes.

26/08/2010

Os Mercenários [2010]

Que Sylvester Stallone é fodão todo mundo sabe. E que seus filmes, com exceção dos Rocky's (menos o 5), são pura ação sem uma gota de cabeça também. No entando, quem liga? Se existe alguém que faz (escreve, dirige, atua...) filmes extraordinários sem roteiro é ele.

Eu me pergunto, precisa de roteiro? Não podemos gostar de filmes de arte e filmes de entretenimento? Eu digo: "Yes, we can!". Mercenários é tão bruto que deixou as poltronas brancas do cinema vermelhas, e todos os expectadores psicologicamente marombados. Eu duvido que exista alguém que assistiu esse filme e não teve vontade de dar uma bicuda na cadeira ao final do filme.

E para quem fica fazendo protestinho contra o filme, dizendo que não vai ver por que o Stallone falou mal do seu país: desiste. Não tem nada de patriotismo nisso, é mais um movimento acéfalo. Patriotismo no sentido restrito nem é uma coisa muito boa, e se for, quando eu fizer um filme nos EUA eu volto pro Brasil e falo "Lá você explode tudo e ainda ganha um terrorista de brinde". Com certeza não vai mudar NADA!

Mercenários é tão_quanto/mais bruto que Rambo IV e com certeza muito mais engraçado. É o Sex & the City dos homens, a reunião dos brucutus, o auge da galhofa e uma injeção de testosterona e esteróides agressiva. Tem uma mulher na minha sessão que tive a impressão que ganhou uma barba no final do filme. Mercenários é isso, nada mais.

explosion
fade to black

13/08/2010

Valsa com Bashir [2008]

Valsa com Bashir é um excelente thoght-provoking movie (filme que faz refletir). Israelense, este filme é dirigido pelo judeu Ari Folman, e conta a história de um ex-soldado que apagara da memória o massacre de Sabra e Chatila, bairros do Beirute, capital do Líbano. O mais interessante é que o protagonista é o próprio diretor.

Para entender perfeitamente o mote do filme, seria muito bom já ter uma noção histórica do acontecido. As eternas batalhas entre a Palestina e Israel todos conhecem, acontece que quando tais desavenças entre muçulmanos e judeus e cristãos chegaram ao então pacífico Líbano, fazendo com que tal país entrasse numa guerra civil.

Palestinos (civis) que moravam na região se abrigaram num campo de refugiados que ficava no Líbano, nos bairros de Sabra e Chatila, mais afastados da cidade e protegido por colinas e sob a guarda de israelenses (por pressão da ONU, aliás, eram civis pô!). Entretanto, numa noite a guarda palestina se "descuidou" e uma das facções libanesas massacrou toda essa população civil. Até hoje não se sabe como foi tal "descuido".

A história começa com Folman conversando com um amigo tomando uma no bar. Este amigo conta sobre um sonho que o atormenta há dois anos, no qual 26 cães (exatamente 26, ele se lembra de cada um) o perseguem querendo matá-lo. Esse é um trauma de guerra dele, e então Folman começa a ter um curto sonho sobre o massacre de Sabra e Chatila. Buscando entender o que aconteceu, ele procura seus conhecidos daquela época para "dividirem informações" buscar entender o ocorrido, já que todos têm certo "apagão" de alguns momentos.

O filme varia entre um estilo documental, com Folman "entrevistando" seus conhecidos, e com uma narrativa nos flashbacks das cenas de guerra. O ritmo é bem lento, verdade, mas como disse um dos soldados contando sobre as viagens nos tanques "a viagem lenta nos proporcionava apreciar os belos cenários".

O nome do filme, Valsa com Bashir, é espetacular. "Mas como que um nome de filme pode ser bom, titio?" você se pergunta. Explico-te, caro pimpolho. Existem títulos de filmes que o resumem – como Star Wars, O Poderoso Chefão, Kill Bill – e os que complementam o filme, que adicionam em conteúdo – como Dr. Fantástico: ou como parei de me preocupar e passei a amar a bomba.

Bashir, primeiramente, era o primeiro-ministro muçulmano (normalmente o presidente era cristão e o primeiro-ministro, muçulmano), que quando estourou a guerra civil, foi assassinado. E assim virou uma espécie de mártir e ícone muçulmano, com fotos em todos os lugares, praticamente o Che Guevara oriental. A valsa com Bashir quer dizer que ele e seus "seguidores" estão juntos, dançando e indo em direção à morte.

A cena que melhor "explicita" essa explicação (já que não é explícito) é quando um dos soldados fica ensandecido no meio de um tiroteio, pega uma metralhadora, vai para o fogo cruzado e começa a atirar para todos os lados, valsando, afinal, seus amigos estavam morrendo e ele não sabia mais por que estava nessa guerra.

Este belíssimo filme é uma animação, em 2D, mas bem realista, pois a técnica de desenho foi pintar por cima do fotograma. As cores variam entre tons quentes e frios e fazem alguns takes parecerem pinturas. O estilismo do filme, em animação, é usado para dar vida a alguns devaneios dos personagens, como uma viagem no colo de uma mulher gigante azul (parece uma Na'vi) enquanto um barco é bombardeado. E o impacto causado pela utilização de imagens de aquivo no final é incomensurável, deixando qualquer um que se envolvera com o filme catatônico no final.

A trilha sonora é eclética, e varia entre rock, com guitarras enraivecidas e música clássica, além de uma música, com levadinha alegre, que fala sobre ir para o Líbano. A letra, entretanto, é extremamente irônica e trata sobre o massacre ocorrido.

Valsa com Bashir é um filme que deve ser vivido, e não assistido, tamanho espanto que ele causa nos motiva a indagar sobre os valores dos homens. Matam sem nem lembrar por que, lutam por ganância e para tirar proveito próprio. Antes das pedradas, isso não é propaganda socialista, apenas um apelo ao amor. Um filme pesadíssimo, apesar de ser em desenho, recebeu classificação indicativa de 18 anos. Denso e instigante, é lindamente montado e provoca um pensamento mais importante do que um simples entretenimento momentâneo, todos deveriam ver um filme assim de vez em quando, para tentar mudar o mundo.

PS: O filme foi proibido em Israel.

Fade to black

05/08/2010

Watchmen [2009]

Em dúvida sobre o que eu assistiria, dei uma olhada nos DVD's que tenho aqui em casa e me deparei com esse bom pipocão. Achei uma ótima idéia e comecei a assistir, e apesar do DVD ter dado umas falhadas, foi excelente.

Watchmen poderia muito bem ser um filme mais cult, acontece que caiu justo na mão de Zack Snyder, diretor de 300, alucinado por efeitos visuais e slow motion. E assim então criou um ótimo filme pipocão com cabeça (graças à HQ, claro).

A trilha sonora do filme é um dos aspectos mais chamativos. Zack escolheu músicas excelentes, como The Sound of Silence - Simon & Garfunkel, acontece que mais de uma vez as músicas não encaixaram no filme. É possível pegar uma música e uma cena que não tem nada a ver e combiná-las, Tarantino faz isso com maestria (quem não lembra da luta samurai tocando Santa Esmeralda no final de Kill Bill volume 1?) mas não é isso que acontece aqui.

Mas nada que atrapalhe o filme. Que é divertidíssimo e me deu MUITA vontade de ler os quadrinhos (eu que não sou muito fã de histórias em quadrinhos). Um ótimo pipocão, à la Zack Snyder, com muito slow motion, cenas de luta, muita computação gráfica, e uma cena de sexo com uma gostosona.

02/08/2010

Quero Ser Quentin Tarantino #1: Cães de Aluguel

fade from White

Céu azul, com poucas nuvens, música erudita tocando ao fundo, enquanto letreiros aparecem da seguinte história (uma frase por vez, de forma tranqüila e ritmada com a música):

"Era uma vez, em Manhattan Beach, numa locadora, um garoto. Este garoto trabalhava nessa locadora, e passava o dia assistindo a filmes. E sonhava em um dia fazer o seu filme"

Corta direto para um barulho de tiro e um sangue vetorizado se espalhando na tela, a música muda para Slaughter (trilha sonora deBastardos Inglórios) e aparece o letreiro

"Essa é a história de Quentin Tarantino"

cross fade

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Quentin Tarantino é meu ídolo, minha referência quando se fala de cinema e autor dos meus filmes prediletos. Portanto, agora farei uma série sobre seus trabalhos da melhor maneira possível, sonhando em fazer uma das melhores matérias sobre Quentin Tarantino do mundo!

A HISTÓRIA

Quentin Tarantino sempre sonhou em fazer cinema, mas seu sonho esbarrava em seu anonimato perante a indústria cinematográfica. Para ganhar um pouco de notoriedade e dinheiro, Quentin vendeu dois de seus roteiros, Amor à Queima Roupa (30 mil dólares) e Assassinos por Natureza.

Mesmo ainda sendo um desconhecido (estes dois filmes só seriam lançados após Cães de Aluguel), Quentin decidiu fazer seu próprio filme, de um roteiro que ele escreveu em três semanas, com seus amigos e com uma verba de 13 mil dólares, em 16 mm e em branco e preto.

Se perguntado qual seria seu ator perfeito para o filme, Tarantino responderia "Harvey Keitel". Eis que, um de seus amigos, Lawrence Bender, fazia aulas de teatro com o marido de Lili Parker, uma associada do Actor's Studio NY e que conhecia Harvey.

Então Lawrence mostrou o roteiro para seu professor, que gostou e mostrou para sua esposa, Lili, que gostou e mostrou para Harvey, que gostou e ligou para Quentin dizendo que adoraria produzir o filme.

Monte Hellman, diretor, se interessou pelo projeto e se "candidatou" a dirigi-lo, mas como Tarantino disse que ele seria o diretor, Monte aceitou ser produtor executivo. E essa lista de contatos só aumentou quando Richard Gladstein, da Live Entertainment, se tornou também produtor e aumentou a verba do filme para 1,5 milhões de dólares. Todos esses envolvidos por causa do nome de Harvey Keitel, que segundo Tarantino, deu "legitimidade ao projeto"

Harvey foi tão importante que ajudou Quentin na seleção do elenco, que aconteceu em LA e NY, e foi em sua casa o banquete que reuniu todos os atores, Tarantino e Lawrence Bender antes da gravação do filme. Perguntado se queria o papel de Mr. Pink ou Mr. White, Harvey ficou com Mr. White. Entre os atores contratados, estava Eddie Bunker (Mr. Blue), um escritor de contos criminais que Quentin lia e utilizava as gírias.

A PRODUÇÃO

O filme foi gravado em sua maioria na zona leste de Los Angeles, sendo o galpão (principal cenário do filme) uma velha funerária abandonada. A escolha de locais contrastados, como um bairro antigo e outros bairros mais ricos apagou os limites claros de tempo do filme e o permitiu envelhecer mais vagarosamente.

Como Quentin ainda não entendia nada de iluminação, ele contratou um câmeraman especialista, Andrzej Sekule, que utilizou um filme com a sensibilidade mais baixa da Kodak e uma forte iluminação para dar mais clareza, profundidade e a cor viva e exata do quadro que Quentin queria.

Durante o mês anterior a gravação, foram feitos ensaios para economizar no tempo de gravação a fim de reduzir custos. E na última semana foi tirada uma folga, a não ser para Tim Roth (Mr. Orange) e Quentin, que tem uma pequena ponta, e que por não ter ambições como ator preferia se concentrar em sua missão como diretor. O filme estreou em 1992, no Festival de Sundance, e até hoje é aclamado.

O FILME

Cães de Aluguel é por muitos considerados o melhor filme de Tarantino, e também o melhor filme independente de todos os tempos. Tendo ganhado vários prêmios, é um dos filmes mais bem cotados pela Rotten Tomatoes e concorreu ao grande prêmio do júri no Festival de Sundance.

As referências que Tarantino coloca em seus filmes são inúmeras, a começar pelo nome do filme. Quentin diz que esse nome veio à sua cabeça durante as filmagens, e que representa a essência do filme, que se dispõe a criar um estado de espírito. Entretanto, há quem diga que é uma combinação de nomes dos filmes Au Revoir Les Enfants(de Louis Malle) e Straw Dogs (de Sam Peckinpah), e que o nome partiu de uma brincadeira entre Quentin e seu amigo, que o convidara para assistir Au Revoir Les Enfants, mas Quetin disse que prefeririaReservoir Dogs. (ham-ham, pegou o trocadilho? "Au Revoir" e "Reservoir"... eeeee Praça é Nossa!)

Cães de Aluguel é foda por diversos motivos, entre eles a tão comentada não-linearidade dos roteiros de Tarantino. Dizendo que odeia quando os bandidos se separam depois do roubo em filmes, Quentin fez um filme sobre o depois-do-roubo. A primeira cena é antes do roubo (que não é citado) e na cena seguinte descobrimos que é depois do assalto.

Um filme sobre um assalto a uma joalheria, que não mostra o assalto! O filme é costurado tão genialmente durante a edição, que na verdade ele te dá primeiro as respostas, e depois vêm as perguntas para nós podermos montar toda a situação e entender tudo o que aconteceu. Essa maneira de contar a história totalmente inovadora de Quentin beneficia o espectador, pois ele monta o filme de modo que a melhor cena seja no fim (no caso desse filme é o próprio fim, mas não é o que acontece em Pulp Fiction).

As sutilezas do roteiro de Tarantino também são impressionantes, os diálogos de seus personagens (que para alguns são completamente desconexos) fazem total sentido, por que nos faz entender cada um, cria uma profundidade e nos fazem entender melhor suas ações. Além disso, como disse o próprio Tarantino "o filme é como a vida, e nós não falamos sobre o plot de nossas vidas, falamos outras besteiras que não tem nada a ver. Bandido não vai conversar somente sobre o assalto, mas também sobre mulheres, alguma coisa que aconteceu com eles ou uma música que eles ouviram na rádio".

Outra sutileza que é digna de Stanley Kubrick acontece na cena em que Mr. White e Mr. Pink estão conversando em uma sala no galpão, e são vistas garrafas cheias de substâncias brancas, rosas e laranjas. Sendo que as garrafas brancas e rosas estão juntas e a laranja está separada das outras. Mr. Orange estava em outra parte do galpão, assim como ele também não faz parte da "laia" desses dois, criminosos.

Assim como na cena em que o Eddie Legal está indo para o galpão, uma bexiga laranja segue o carro por um momento, sabendo que Mr. Orange é o policial infiltrado, dá a idéia de que a polícia está na cola deles, como o final do filme demonstra.

Além disso, Tarantino constrói o filme não somente com o que se passa na tela, o roteiro é inteligente de mais para isso. Como a cena em que Mr. Blonde corta a orelha do policial e a câmera se move para um canto do galpão, ou a cena final, em que a câmera fica em close no Mr. White e o que nos faz entender o filme são somente os sons.

Em referências a outros filmes, destacam-se Seqüestro do Metrô 123(1974), que deu a idéia para Tarantino usar nomes de cores aos ladrões e A Better Tomorrow II (1987, de John Woo), que deu idéia para todos os ladrões (assim como em Pulp Fiction) usassem ternos e gravatas pretas com camisas brancas.

Além disso, Tarantino referencia uma frase de Muhammad Ali, que disse “Se você um dia chegar a sonhar em me bater, é melhor que acorde e se desculpe”. Essa frase é dita por Mr. White (“Se você atirar em mim enquanto sonha, é bom que acorde e se desculpe”) no começo do filme.

Os filmes de Tarantino sempre estão recheados de cultura pop. Diálogos sobre músicas, filmes, seriados, atores e atrizes; revistas em quadrinhos e pôsteres do mesmo e de filmes. Tem tudo que tem na vida real. Quentin tinha, aliás, uma certeza tão grande sobre sua interpretação de "Like a Virgin" da Madonna, que quando encontrou com ela, ele a perguntou se estava certo (!). Ela respondeu que não, que é uma música de amor. Mas eu prefiro a sua interpretação, Quentin.

A trilha sonora é espetacular, como em todos os filmes de Tarantino. Ele que afirma ter uma coleção gigante de músicas em sua casa, na sua Jukebox (que pode ser vista em À Prova de Morte), e que cria cenas especialmente para colocar uma música especial no filme.

O melhor dos filmes de Quentin Tarantino é que ele satisfaz o público. Como ele mesmo disse "as pessoas pagam 9 dólares para ir ao cinema, e estão indo ao cinema. Eu quero lhes dar uma experiência, e não somente um monte de imagens passando". Em todos os filmes de Taratino, os espectadores saem com um sorriso no rosto, ele sempre lhes dá o que eles querem, desde Cães de Aluguel, até agora emBastardos Inglórios.

Tarantino já se firmou como um dos grandes do cinema atual e já escreveu seu nome na história do cinema. Fazendo de todos os seus filmes uma obra-prima, ele virou um ícone moderno e é cultuado por milhares ao redor do mundo, influenciando vários cineastas (entre eles Guy Ritchie, Danny Boyle, Chan-Wook Park) e aspirantes à (entre eles, eu). Resumindo, é um cara foda pra caralho.

Fontes de pesquisa: Wikipédia, Artilharia Cultural e os extras do DVD.

fade to black

01/08/2010

Balanço do Mês: Julho

Pois é galera... acabaram as férias! Assisti vários filmes, alguns já comentados numa espécie de "Balanço do Mês" (o Pacotão Combo-Mega: Férias) e outros nem documentados por quem vos escreve por falta de tempo (nas férias, acreditem. Ou saco mesmo). Vou comentar os que eu lembro e atenção, pois o sistema de notas mudou (!), abandonei as estrelinhas por elas serem falhas, a partir de agora, os filmes serão graduados por uma palavra ou pequena sentença descritiva.

#1. Invictus (de Clint Eastwood, 2009) - Muito bom
Mr. Clint já mostrou que não é fraco quando o assunto é fazer filmes. Suas produções -majoritariamente emocionantes e inspiradoras, sempre de alta qualidade - saem quase todo ano e Invictus é mais um ótimo exemplar de sua capacidade.

#2. Coração Louco (de Scott Cooper, 2009) - Bom
A história sobre o músico country Bad Blake (VIVIDO por Jeff Bridges) não é tão de volta por cima como Rocky, ele não estava tão decadente quanto Randy "The Ram" (O Lutador) e sua mulher não é tão bonita quanto qualquer outra (Maggie Gyllenhaal, a sem sal). Entretanto Jeff Bridges faz valer o ingresso, com uma atuação espetacular, e para quem gosta de country music a trilha sonora é um prato cheio. É um filme mais leve que outros do gênero (como O Lutador), mas bem divertido. Vale a pena assistir.

#3. Cinderela em Paris (de Stanley Donen, 1957) - Audrey Hepburn
Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn, Audrey Hepburn.

#4. Tá Todo Mundo Louco (de Jerry Zucker, 2001) - Sessão da Tarde Engraçado
Um dos filmes que mais passou na história da Globo (inclusive hoje) que fez parte da minha infância, pré-adolescência. Até hoje eu acho muito engraçado, fora que tem vários comediantes carimbados, como Mr. Bean (Rowan Atkinson), Cuba Gooding Jr. e Woopy Goldberg.

Cross Fade para um letreiro amarelo, de fundo preto, escrito "Audrey Hepburn".
Fade to black.